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Como superar os desafios da empresa familiar

Muitos são os desafios da empresa familiar. Dentre eles citamos a dificultosa separação entre empresa e parentesco; a hierarquia interna; e a meritocracia de funções. 

O modelo de negócio mais antigo

A empresa familiar é o modelo de negócio mais antigo do mundo. Apesar de causar espanto, nada mais lógico: afinal, desde sempre existiram pessoas vendendo bens e serviços e, majoritamente, isso se dava no seio da família.

Meu avô, por exemplo, desde criança levava os doces feitos pela mãe para vender na “cidade”, assim como ajudava o pai na produção de fumo. A família, historicamente, gerava riquezas através da união de esforços de seus membros.

Não que hoje não seja assim. Naturalmente reproduzimos o que dá certo. Mas hoje essa ideia não fica tão clara pelo fato de que muitos pais e filhos acabam gerando riquezas de forma individualizada. Por exemplo: o pai é autônomo prestador de serviços, a mãe é assalariada e o filho começa a empreender em um novo ramo.

Eventualmente, temos uma família organizada em torno de uma atividade econômica e assim são chamadas as empresas familiares.

Conceito de empresa familiar

As empresas familiares são aquelas compostas por acionistas e colaboradores de uma mesma família. Não que não existam outras pessoas participando da estrutura empresária que não sejam da família, mas definitivamente a estrutura é marcada pela relação familiar ali correspondente.

As empresas familiares são assim designadas porque, realmente, contam com algumas peculiaridades, tais como a relação entre seus integrantes para além da empresa, e de uma forma muito marcante, ao longo dos anos.

Diferem-se bastante das empresas de porte corporativo, em que inexistem vínculos que não sejam estritamente profissionais (ou, pelo menos, a relação primordial que une seus membros é decorrente do trabalho).

Naturalmente, portanto, a empresa familiar tem desafios peculiares, que passamos a abordar.

Atividade empresária X parentesco

É importante ter clareza de que, embora as pessoas em questão sejam ao mesmo tempo familiares e membros de uma mesma empresa, os dois papéis devem ser desenvolvidos de forma independente.

Isso quer dizer que: enquanto na família, a pessoa é um irmão/primo/filho; enquanto na empresa, é um colaborador/sócio. Ou seja: cada um deve desempenhar o papel que lhe compete a depender do ambiente em que está.

Não pode, por exemplo, o parente se referir a seu chefe como o trata no final de semana (talvez na condição de pai/tio/primo). Na empresa, ele é seu chefe e deve ser considerado com todo o acatamento e respeito que sua condição exige. Até para dar exemplo aos demais colaboradores que ocupam a mesma posição sobre como tratar o chefe.

Isso é um desafio, mas deve ser superado através de disciplina e seriedade. Quando estamos diante de uma empresa familiar séria, esse tipo de confusão não se cogita porque o parente indisciplinado ou “sem noção” não tem espaço em uma estrutura empresária.  Se ele conseguir entrar, vai durar pouco. E assim deve ser porque família é uma coisa e empresa é outra coisa.

Hierarquia interna

O tópico anterior passa a ser especialmente importante quando a hierarquia da família é invertida na estrutura empresária. Por exemplo: o filho vira chefe do pai ou o sobrinho vira chefe de um tio. Esse é, sem dúvida um dos grandes desafios da empresa familiar.

Veja-se que, no ambiente familiar, a posição hierárquica seria exatamente oposta. E isso pode ser desafiador. Afinal, são as mesmas pessoas em convívio. É preciso maturidade para separar uma coisa da outra e saber se portar, em cada segmento da vida, da forma como o protocolo e o bom-senso exigem.

Esse tipo de imaturidade, à propósito, não está restrito às relações familiares. Quantos subordinados de idade cronológica mais avançada não tentam desprezar o trabalho de chefes mais novos, acusando-os de não saberem nada?!

Outro ponto que pode causar dificuldades é a situação de pessoas da mesma idade, que sempre conviveram e se trataram de “igual para igual” (como primos, por exemplo), ocuparem cadeiras de diferentes níveis hierárquicos. Novamente, a superação dessa questão contará com a maturidades das partes envolvidas e de clareza sobre as diferentes relações.

Meritocracia

E, por fim, e talvez o mais importante de todos os desafios: os cargos e funções de uma empresa devem ser preenchidos conforme o mérito.

Independente de se ter ou não grau de parentesco, as pessoas devem ser nomeadas aos respectivos cargos existentes com base em sua competência, expertise, experiência, enfim, pertinência de seu perfil com as funções exigidas por cada posto de trabalho.

Embora isso pareça bastante óbvio, muitas vezes essa necessidade não é observada. Afinal, é uma verdade cristalina que as pessoas encarregadas de determinadas funções devem ter a capacidade de exercê-las. Nada obstante, é comum que os cargos sejam preenchidos ainda que tal exigência básica não seja verdadeiramente observada.

O motivo é relativamente simples: as pessoas querem fazer parte da estrutura empresária de qualquer forma, mesmo que não tenham a devida qualificação. Vamos comentar aspectos importantes sobre esse ponto.

1. Da situação de escassez (ou não)

Por vezes, mostra-se necessário que os membros integrantes de uma estrutura se proponham a fazer aquilo para o que não têm qualificação por mera necessidade. Quero dizer: na falta de recursos para contratar um profissional do marketing, eu mesmo farei o que estiver ao meu alcance. Todas as empresas passam por isso em seus anos iniciais, em que tudo está sendo testado e quando os sócios desempenham todas as funções até que possam compreendê-las o suficiente para rentabilizar e delegar.

Contudo, com o passar do tempo e o amadurecimento da empresa, não se justifica essa estratégica, porque há recursos para contratar. Assim sendo, há que se contratar profissionais competentes para as respectivas áreas e não parentes (desqualificados) para simplesmente ocuparem determinados espaços.

É claro que existe uma pressão da família (que pode vir de um irmão pedindo ao outro para empregar um filho ou do avô intercedendo por um neto), mas isso não pode ser maior do que a coerência interna da estrutura e, mais que isso, a lógica de contratações da empresa por critérios de especialidade e mérito.

2. Do apego

Quando já não se tem mais o cenário de escassez de recurso, o que de fato inviabiliza a contratação de certos especialistas e chega-se a contar com uma mão-de-obra desqualificada por mera necessidade, é preciso ficar alerta.

Uma vez que há recursos, a empresa deve se cercar, sem que estiver ao seu alcance, dos melhores profissionais. Não que isso levará em conta apenas os critérios objetivos de expertise. O trabalhador interessado em ingressar na empresa, seja parente ou não, deve-se mostrar uma boa opção considerando a sua integralidade: personalidade, formação, valores, visão etc.

O fato é que a empresa não deve contratar ou manter parentes na empresa pelo simples fato de que são parentes. A empresa familiar já tem desafios demais. O apego à necessidade de contratar/manter contratados familiares pode ser um enorme problema se essas pessoas não estiverem colaborando de fato para o sucesso da empresa.

Bastar pensar que, com o dinheiro investido em parentes desqualificados a empresa poderia remunerar profissionais especialistas que, provavelmente, fariam um trabalho mais qualificado e trariam mais retorno à pessoa jurídica. Superar esse apego é fundamental quando se tem claro o objetivo de fazer prosperar a empresa familiar.

3. Do pensamento limitado

Nesse sentido, portanto, é fundamental que a direção da empresa tenha clara a necessidade de constante profissionalização para que a empresa cresça. Não que a estrutura precise se desenvolver de uma forma a perder suas características essenciais, mas a crescente profissionalização traz mais segurança e qualidade de vida para todos da estrutura.

Talvez não seja do interesse do dono da empresa a sua expansão a nível nacional. Tudo bem. Mas que tal investir em uma setorização mais eficiente de suas atividades?

Talvez não haja a intenção de venda da empresa. Tudo bem. Mas que tal deixar determinado em vida quem tomará as rédeas da empresa na sua falta? Confira o nosso artigo “Quem vai assumir minha empresa depois de mim?”

Entendem? Não é sobre descaracterizar a empresa familiar, mas sim sobre torná-la mais eficaz, produtiva e condizente com a realidade atual. Nosso intuito é colaborar para a sustentabilidade das empresas familiares, mas sabemos que isso não é possível sem profissionalismo ( que é justamente o ponto central das empresas de formato corporativo, eventuais concorrentes das empresas familiares).

Conclusão sobre os desafios da empresa familiar

As empresas familiares têm uma configuração peculiar porque criam uma interseção entre duas instituições: a empresa e a família. A princípio, nenhum mal nisso, afinal esse é o modelo de negócio mais antigo do mundo e pode, sim, ser muito poderoso.

Porém, é preciso que sejam observados alguns pontos, que são o “calcanhar de Aquiles”, o verdadeiro desafio da empresa familiar, tais como a falta de profissionalismo e de setorização interna e a contratação de parentes sem qualificação.

Observar e evitar esses erros mais comuns (e que se mostram como grandes obstáculos) é uma necessidade para a prosperidade dessas empresas. “Virar a chave” e deixar essas limitações para traz é um ingresso para o sucesso e, mais que isso, para a paz de muitos empresários.

Conte com bons especialistas! Profissionalize! Honre a história de sua família!

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